Hoje faz seis meses de uma das maiores mudanças da minha vida, e olha que eu já me mudei bastante. O máximo que já vivi numa mesma cidade foram 8 anos, e nem sempre na mesma casa. Mas essa mudança foi diferente, e não só pela mudança de país, de cultura, de língua, o que por si já é bastante. Dessa vez, a mudança foi “multinível”.
Primeiro, pela mudança gigantesca. Foi a primeira vez que eu me desfiz de realmente tudo o que eu tinha e fui, apenas com uma mala de roupas, em busca de começar tudo de novo. Foi também a primeira vez que mudança envolveu minha filha, que também precisou dar tchau para tantos pertences, além da escola, amigos e família. Foi a primeira vez que precisei pensar não só na minha adaptação em um novo local, mas também a dela. E isso dói bem mais. Pensar nela tendo que lidar com a língua nova, um sistema educacional diferente, com amigos que não a entendem...tudo isso dói mais do que quando o perrengue é comigo. Uau, ainda não acredito que fizemos isso!
Em segundo, a mudança foi também interna. Mas não simplesmente pela mudança de país. Eu, que já tinha tido antes a experiência de mudar tantas vezes, inclusive de morar em outro país, sei bem como é possível você mudar constantemente de endereço mas seus monstros internos seguirem com você. A mudança foi interna porque eu venho há 8 anos remexendo nas ruínas que existem em mim. Mas só nos últimos 6 meses é que, ironicamente, ao pegar a estrada da mudança de país, eu me permiti parar de me mover insanamente (vide viver obcecada com o trabalho) e simplesmente observar a poeira ao redor de mim baixar e realmente enxergar minhas ruínas. Sim, privilegiada que fala, eu sei. Poder pausar o trabalho e focar só em mim, em curar minhas feridas, e na nossa adaptação aqui é um privilégio. Mas não tem sido exatamente fácil. Me despir da Nathalia nutricionista fod* e me permitir ser simplesmente eu, resgatando para a menina vulnerável que vivia embaixo da armadura, tem sido transformador. É maluco isso, mas pela primeira vez sinto que realmente estou me conhecendo - para além da nutricionista, da recuperada de transtorno alimentar.
Por isso, apesar de todas as dores (porque sério, gente, ser imigrante é MUITO difícil. Tem muitos pontos positivos mas muitos negativos também), esses têm sido os melhores seis meses da minha vida. Novamente, não necessariamente pela mudança de país, embora essa oportunidade esteja me ensinando muito, a base do murro mesmo. Mas porque eu me permiti mudar (ou melhor, me resgatar) internamente também.
A moral da história é: quer mudar de país? Sim, pode ser maravilhoso. Mas dói pra caramba lidar com as mudanças de língua, de cultura, de sistema. Dói ainda mais ser pra sempre um estranho no seu próprio país lar.
Mas mudar de endereço não resolve a vida. Eu sei bem disso. Os monstros internos sempre vão junto com você. Isso se chama fugir, e não mudar.
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